Por causa de um segundo, eu vi.
Vi o ônibus batendo na puxadora de carroça. Vi que ele dobrou a esquina da Av. 1º de Abril com a Av. Desolação.
Vi que o nome dela era Esmeralda. Tão linda e tão bruta, não aceitava sua nova condição de esperar sentada. Os dedos de Esmeralda eram fortes demais, mas até sua preciosidade tinha limites... Ali jazia sua carroça inválida, seu intransporte, com o pão-lixo de cada dia, esmolai hoje.
Vi o apóstolo Marcos, por ocasião da trama, fazendo as vezes de marido, prometer ao céu e ao inferno - ó temporada de caça - qual deles levaria para sempre sua alma em troca de vingança. Vi seus olhos áridos, escorrerem sumo de dor, que em todo sertão há. Vi-lhe vendo-a, e a vi vacilar sobre o chão, uma tontura.
Por causa de um segundo eu vi.
Vi um homem, quase samaritano, avisar a todos o triste desastre. Vi-o chamar os para-médicos, evadindo-se em seguida, sem ver os capítulos finais. Ganhará dois trocados no bingo dos Céus. Vi também o guarda, que também me viu. Que a tudo viu! Mas como era seu dever, nada fez. Enquanto isso eu não via os olhos verde-esmeralda tornarem-se cinza-asfalto. Porque assim é a Palavra: "Do Asfalto vieste, ao asfalto retornarás".
Por causa de um segundo um c(M)atador de caranguejos não viu toda a cena. Pois do alto de sua ponte, ele brincava também de Deus. Mas era um deus que só ele conhecia. Um deus que ri da dança sem patas dos esmeraldos-marinhos, moribundos. O c(M)atador não viu porque não quis ver. Aquela realidade estava fora de seu controle divino. E então dessa brincadeira ele não queria brincar.
Além disso, ainda passavam e agora passam, carros, ônibus, Esmeraldas e c(M)atadores naquela esquina e em outras. E por causa de um segundo qualquer, eles não perdem O Tempo olhando-se.
Palavra da Perdição... Graças, Ateus.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Da estafa um verso.
O Cansaço chega a toda, enraivecido.
Diz, sem nome, o osso de palavras vãs.
E de pálpebras amargas em rubras teias
descansa o ombro sobre os meus calos.
Diz, sem nome, o osso de palavras vãs.
E de pálpebras amargas em rubras teias
descansa o ombro sobre os meus calos.
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