sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Declarações tão íntimas quanto exógenas Ou Para você, eu te amo Ou Poema que quase aconteceu mesmo sem sê-lo Ou Expresso do Aguadeiro

A ilha era cercada por forças invisíveis. Ninguém que entrasse ficava vivo... Tudo era agonia e desespero. O sol nasceu e se pôs e nasceu e não se pôs e não nasceu e se pôs. Quanto tempo? não se sabe... A ilha apenas estava ali.
E, para parecer belo, choveu numa noite. E do céu caíram corações pulsantes e melodramáticos em meio aquele sangue peneirado pelos tarôs do céu. Sem precedentes, como se tivessem esfaqueado nuvens sem fim. Nunca houve nada parecido...
Amanheceu sem chuva, sem sangue, sem corações pulsantes. Distante da realidade e dentro da ilha amanheceu uma mulher. Como era linda... e estava viva!
E ela cuidou das plantas, cuidou da terra. Criou estrelas, Desenhou um sorriso no chão. Enfeitou de coroas aquele novo e desconhecido lugar.
Mas como veio a chuva, veio também o vento seco. Que varreu as coroas as plantas e tudo. Morta, a mulher não ouviu um grito de dor que subiu do fundo do mar. E ainda morta, também não sentiu as ondas vindas do fundo fazerem tudo, estrelas, mulher e mar voltarem ao que eram: nada.
... e a cabeça levantou-se e começou a andar em círculos infinitos, um movimento de rotação poético e funesto do mais lento ao mais rápido, e fez além de si um cenário rodamoinhense tão perfeitamente rodável, que crescia e crescia, até fazer um redemoinho tão forte que puxou-a de volta para baixo, deixando apenas a sua moleira descoberta ao sol, novamente em formato de ilha...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Rito de passagem ou Quando um homem vira um Homem

O verdadeiro momento em que um homem pode se dizer: "sou Homem.", não é após a sua primeira noite de sexo, afinal conheço muitos meninos que nem bem são adolescentes e já são mais homens que eu neste sentido. E diga-se de passagem, conheço homens que por mais que já tenham bastante idade e vida sexual ativa, são ainda mais infantis do que o primeiro exemplo. Mas deixando as paralelizações um pouco, o verdadeiro momento em que um homem se torna Homem é quando ele compra um kit Mach 3 turbo, da Gillete e faz a sua própria barba. Cara, esse momento é fascinante! Dizem até que na China Antiga já existiam Mach 3 turbo, mas era sob outro nome, um pouco menos comercial. Olha, eu não tô brincando (nem recebendo dinheiro por fazer comercial!), mas esse é de fato um rito de passagem extremamente importante, e nem tão valorizado!
Começa assim: Ir ao Supermercado comprá-lo. Você não foi e... "opa! um barbeador, vou comprar...", você saiu de casa PARA isso. E olha que nem é tão barato, posso até dizer que tudo começa mesmo quando você toma a decisão de gastar dinheiro com isso, aí sim você começou a se tornar Homem... mas, voltando... Você pára em frente a seção de barbeadores e as marcas concorrentes perdem o brilho, se escondem, sabem que não vão chamar sua atenção, na verdade nem existem mais outras marcas, naquela hora é somente você e ele. Pegar o kit, colocá-lo no carrinho e dirigir-se ao caixa são ações que você nem percebe, há ali um momento de transição fundamental, você nem pisa no chão, o mundo te sente diferente. Até a mocinha do caixa te olha diferente. "Nossa, ele é um Homem!", ela pensa.
Mais tarde, o momento sublime e único: a Grande primeira vez. Você pode até já ter se barbeado antes, mas nada vai ser como aquilo. A outras vezes foram ilusão, treino, erro. Molhar o rosto suavemente, se olhar no espelho, botar o gel para barbear na mão, se olhar no espelho, espalhar o gel no rosto, se olhar no espelho!, molhar a lâmina de barbear, se olhar no espelhooo!!!, e iniciar o barbear perfeito, a espuma sendo cortada e deixando a mostra a nova pele nascendo depois da passagem daquelas três suaves lâminas, olhar-se nesse meio tempo e pensar: "você venceu, você é o melhor!" E após lavar o rosto, uma gota de gel pós-barba e espalhar naquela face linda e reluzente, cheirosa... divina!
"...ui..."
Se assustar um pouco é normal, nem você sabia que era tão bonito, que conseguiria tanto.
Ops, um pontinho de sangue... tudo bem, acontece. Na segunda vez será perfeito! Nada de sangue, nada de chão todo molhado, nada de tabaquice ou brincadeiras com a espuma de barbear, será perfeito. O importante agora á sair para sua nova vida, antes era chato, sem graça. Agora não, agora todos percebem que você está diferente, as pessoas mais ousadas chegam a passar a mão no seu rosto, talvez inconscientemente atraídas por ele: "nossa, o que é que você fez? você está tão... tão... diferente!". A partir daí é só ir ao encontro do mundo lá fora, que está a sua espera, pelo menos é isso que diz na embalagem...

Ps: Não ter barba não significa nada. O importante é o ato de barbear-se, ok? Eu tenho esperança de que a minha tornar-se-á mais significativa com o passar do kit... saco...