sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Declarações tão íntimas quanto exógenas Ou Para você, eu te amo Ou Poema que quase aconteceu mesmo sem sê-lo Ou Expresso do Aguadeiro

A ilha era cercada por forças invisíveis. Ninguém que entrasse ficava vivo... Tudo era agonia e desespero. O sol nasceu e se pôs e nasceu e não se pôs e não nasceu e se pôs. Quanto tempo? não se sabe... A ilha apenas estava ali.
E, para parecer belo, choveu numa noite. E do céu caíram corações pulsantes e melodramáticos em meio aquele sangue peneirado pelos tarôs do céu. Sem precedentes, como se tivessem esfaqueado nuvens sem fim. Nunca houve nada parecido...
Amanheceu sem chuva, sem sangue, sem corações pulsantes. Distante da realidade e dentro da ilha amanheceu uma mulher. Como era linda... e estava viva!
E ela cuidou das plantas, cuidou da terra. Criou estrelas, Desenhou um sorriso no chão. Enfeitou de coroas aquele novo e desconhecido lugar.
Mas como veio a chuva, veio também o vento seco. Que varreu as coroas as plantas e tudo. Morta, a mulher não ouviu um grito de dor que subiu do fundo do mar. E ainda morta, também não sentiu as ondas vindas do fundo fazerem tudo, estrelas, mulher e mar voltarem ao que eram: nada.
... e a cabeça levantou-se e começou a andar em círculos infinitos, um movimento de rotação poético e funesto do mais lento ao mais rápido, e fez além de si um cenário rodamoinhense tão perfeitamente rodável, que crescia e crescia, até fazer um redemoinho tão forte que puxou-a de volta para baixo, deixando apenas a sua moleira descoberta ao sol, novamente em formato de ilha...

4 comentários:

Kyara disse...

este texto lembrou um pouco aquele jogo do RPG, não em conteúdo, mas em etrutura, em situações, provocações.
intenso como você.
Beijo,
Ky

Márcio M Andrade disse...

Ailton, nunca digo isso pra ninguém, mas vou dizer agora: NUNCA LI NADA ASSIM ANTES.

O que essas palavras me trouxeram não tem comparação... Uma agonia triste e curiosa ao mesmo tempo... Forte!

Luiz Felipe Botelho disse...

É prosa e poesia ao mesmo tempo.
Gosto muito. É muito massa se poder se dispor a escrever com essa liberdade de lidar com os conteúdos. É quando a gente pode ver que existe uma mitologia toda nossa - e compartilhável com todo mundo - que está bem viva. Acho demais de ótimo que você permita que essa mitologia ganhe forma e venha ao mundo. Vá fundo!

Marcos Fernandes disse...

admiro você...

Um forte abraço!!!