quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sem Títtulo ou De Como Vai O Sentimento Do Cérebro

"As memórias não estão em mim, estão nas coisas ao meu redor.
Entretanto, também estou ao redor, também sou coisa.
Estou nos gostos, nos sabores dos outros. sou uma amostra de tecido
remendado em trapos que andam por aí.
Andando em solas de sapatos pelas calçadas inusitadas.
Durmo entre infinitos lençóis, acordo nu.
como parte de um incompleto que busca também partes também incompletas.

As memórias não são minhas, são das circunstâncias.
Entretanto, também sou circunstancial, divido ambientes, encerro diálogos.
Apareço em vidas, desapareço.
Um mergulho fundo rumo ao vazio. a memória ainda estará lá...

As memórias não começam ou terminam, são intermitentes.
Entretanto, acho-me corpo frágil, passível do fim. vago mundo.
Mas, além disso, vive a mente, que também não tem fim.
um começo de um começo de um começo de um começo...
um fio que curva o espaço, se dobra e até passa por si próprio outra vez.

As memórias não passam por nós, nós a passamos.
Entretanto, também sou estação, ponto de retorno, contorno da mesma e única volta:
a vida.

...
Sou memória em potencial!"

3 comentários:

Amanda Virgínia Torres disse...

Vc se conhece.
E é acho que é tudo que se é preciso dizer.

manu moema disse...

Esse tem algo de existencial.
Gosto.

Pelo meio do texto me lembrei:

"E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo"

(parte de "Oração ao Tempo" de Caetano.)

Adoro ler-te.

Unknown disse...

"(...) também sou circunstancial, divido ambientes, encerro diálogos.
Apareço em vidas, desapareço.
Um mergulho fundo rumo ao vazio. a memória ainda estará lá..."

Meu trecho favorito. Expressa muito do que tenho visto e vivido. Grande Ailton!