Falam por aí que todos os caminhos levam a Roma. Embora existam algumas controvérsias fabulosas, como o caminho do Lobo Mau, e o de Joana Bezerra, por exemplo. E a literatura ainda nos deixa então várias possibilidades para mesmo nós, escolhermos o nosso certo e o nosso errado. Certo, certo mesmo, não sei bem qual é esse esquema. Tudo o que sei é que ambos os caminhos que tomei, me levaram a uma Roma que definitivamente não me foi tão agradável ou desejável assim.
A Vida, até agora, me pôs em muitas situações no mínimo capciosas. Para falar a verdade, as vezes nem são necessariamente situações de fato, mas pessoas que por si só acabam se tornando uma situação. Ou melhor, uma constante. Afinal, situações situam-se em pontos estratégicos do varal da nossa história, mas não se estendem por tanto tempo. E pelo que percebo, algumas pessoas teimam em não se fixar numa esquina de minha memória e desaparecer na curva, e simplesmente me seguem! Desde o meu pai até a minha atual Supervisora de Estágio, tenho convivido com verdadeiros mistérios da Fé, que somente acreditando no Pai, no Filho, no Espírito e no Cunhado Santo é que se pode ter paciência para tal. Mas o que anda inquietando a minha neurose ultimamente é justamente a postura que eu assumi diante dessas e de tantas outras divertidas travessuras a qual a Vida - essa brincalhona - me expôs.
Explico-me: para todo momento em que não nos saímos bem de alguma situação, durante algum tempo pensamos no que teríamos dito, ou no que não teríamos se por acaso nos excedemos nos comentários daquele fato. Bem, o importante é que esse momento de reflexão, esse entreato, é uma lacuna, um instante de ênfase no Eu subjugado pelo super-mega-ego dos outros. O que eu chamo cientificamente de “puta merda, por que eu (não) falei aquilo?”. Esse momento é importante para refletirmos sobre as conseqüências dos nossos atos. Afinal, se você tivesse falado aquela arguta frase que só veio à sua mente horas depois, toda a seqüência de eventos teria sido diferente, ora, pois. Tudo seria diferente. Quem sabe você não teria encontrado ali o amor da sua vida, ou talvez você estivesse morto, ou simplesmente encontraria estampado no rosto perplexo da outra pessoa a imagem que lhe remeteria a acertar no jogo do bicho no dia seguinte... Pois é... eis a (des)graça da relatividade: Nunca saberemos.
Elucubrações a parte, consegui lembrar um momento que vivi recentemente, que se encaixa nesse perfil de situação que mudou completamente por causa de uma resposta que eu dei. Aqui narro tentando ser o mais fidedigno possível na hora da transcrição, claro, estando a mercê de minha falha memória.
A Resposta que eu dei:
Após (mais) um assalto que sofri, para registrar no meu currículo, eu - que estava um pouco embriagado, às 22h30, muito longe de casa e acabara de perder um celular mais inteligente que a minha irmã - entrei no último ônibus da noite que viria em direção a minha distante aldeia. E nele dormi até o término de seu itinerário, um bairro vizinho ao meu, que é famoso por aparecer diariamente na coluna policial. Como um rapaz bem articulado e que sabe fazer uso de suas letras na hora de persuadir ou convencer alguém, dirigi-me ao motorista do ônibus e perguntei-lhe se faria algum mal eu não descer lá na última parada e seguir numa breve carona com o carro que inevitavelmente passaria em frente a minha rua. Ora vejam: 1) não havia mais ônibus que eu pudesse pegar; 2) todos os ladrões-pedágio já estavam a postos, esperando minha contribuição e 3) o caminho que aquele veículo infeliz tomaria era o mesmo que o meu! Era mais do que uma boa ação... era uma ótima ação!
Ah, mas nem tudo são flores nesta vida... Pareceu-lhe muito para aquele homem, fazer isto, então ele simplesmente olhou pelo retrovisor e disse secamente: “não”. Opa, obrigado... afinal, até aí, tudo bem. Ser assaltado e passar por isso... contabilizando ainda dá lucro. Mas ele não se conteve e depois que eu desci, vi que um pouco mais a frente, ele parou o carro e deu carona para mais de oito possíveis amigos dele.
Senhores, acabamos de passar a fronteira do inesperado... eu ali já achava que não tinha mais nada a perder e gritei a plenos pulmões: “Filho-da-Puta”...
“...fabuloso como o nosso corpo reage instintivamente a certos estímulos mesmo quando estamos cansados/ ressacando/ assaltados/ tudojunto...”
Simplesmente, quando meus pés viram que o ônibus parou e o motorista desceu e veio correndo na minha direção, ambos começaram a correr simultaneamente, quase combinado! Nessa demonstração olímpica de tiro ao alvo e maratona livre, eu corri durante mais de cinco minutos até enfim o motorista se cansar e voltar ao ônibus, me procurando ainda enquanto dirigia. Enquanto eu, já estava sábia-covardemente, escondido.
Bem, se tivesse ficado calado, não testaria a resistência dos meus pulmões, agilidade dos meus pés e histórico cardíaco da minha família e somente iria indignado para casa com aquele peso de quem poderia ter feito algo...
...Ora bolas, eu nem nunca quis ir a Roma, porque diabos me meteram no meio desse ditado infame?! Todos os caminhos deveriam dar na praia, na encruzilhada, em lugar nenhum... sei lá! O importante é que como já falei, os meus me levaram a uma Roma em chamas, que ao que tudo indica, são de fato uma purificação... pelo menos arde como Elixir Sanativo... e pelo sim, pelo não, estou aguardando... a ferida com certeza vai sarar, mas a cicatriz fica.
Um comentário:
Tava sentindo falta dos teus textos absurdos. Investigando os cubículos mais ocultos da patetice humana. Quem diria que há coisas que Ailton NÃO diga? Kkkkkk!
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